diz tu por mim silêncio, for solo soprano
and wind ensemble (2022)

[en]
diz tu por mim, silêncio (2022), for soprano solo and wind ensemble, is based on the poem ‘Não era hoje um dia de palavras’ by José Saramago to explore the tension between the absence of speech and the imperative need for expression. The piece dives deeply into introspection and internal conflict, in a struggle where words prove insufficient and silence itself becomes an act of speech. The vocal line, accompanied by whispers, intertwines with the gestures of the wind ensemble – as if the instruments were the voices that the protagonist can’t (or doesn’t dare) articulate.

The sound of the work is moulded by the atmosphere of the poem, where silence is not just the absence of sound, but an active space for reflection and transformation. Inspired by disenchantment with the banality of contemporary discourse and the search for more essential communication, the music oscillates between restraint and explosion, between the intimate and the collective. Silence is not just absence, but a territory of resistance: the place where the unspoken is transformed into sound. The title, taken from the poem’s final line – “Diz tu por mim, silêncio, o que nao posso” (‘Say for me, silence, what I cannot’) – reflects this delegation of the unspeakable to something greater, be it time, music or emptiness itself.

diz tu por mim, silêncio was commissioned by Leiria Creative City of Music, as part of the celebrations for José Saramago’s centenary. It premiered on 18 November 2022 at the Miguel Franco Theatre in Leiria, with soprano Rita Marques and the Wind Ensemble of the Leiria Philharmonic Association, conducted by Nicholas Reed.

poem(a):
Não era hoje um dia de palavras,
Intenções de poemas ou discursos,
Nem qualquer dos caminhos era nosso.
A definir-nos bastava um acto só,
E já que nas palavras me não salvo,
Diz tu por mim, silêncio, o que não posso.

[pt]
diz tu por mim, silêncio (2022), para soprano solo e ensemble de sopros, parte do poema “Não era hoje um dia de palavras” de José Saramago para explorar uma tensão entre a ausência da fala e a necessidade imperiosa de expressão. A peça mergulha profundamente na introspecção e no conflito interno, numa luta onde as palavras se revelam insuficientes e o próprio silêncio se torna um ato de fala. A linha vocal, acompanhada de sussurros, entrelaça-se com os gestos do ensemble de sopros — como se os instrumentos fossem as vozes que a protagonista não consegue (ou não ousa) articular.

A sonoridade da obra é moldada pela atmosfera do poema, onde o silêncio não é apenas a ausência de som, mas um espaço ativo de reflexão e transformação. Inspirada pelo desencanto face à banalidade dos discursos contemporâneos e pela busca de uma comunicação mais essencial, a música oscila entre a contenção e a explosão, entre o íntimo e o coletivo. O silêncio não é apenas ausência, mas um território de resistência: o lugar onde o não-dito se transforma em matéria sonora. O título, extraído do verso final do poema — “Diz tu por mim, silêncio, o que não posso” — reflete essa delegação do indizível a algo maior, seja o tempo, a música ou o próprio vazio.

diz tu por mim, silêncio foi uma encomenda da Leiria Cidade Criativa da Música, integrando as comemorações do Centenário de José Saramago. Estreou a 18 de Novembro de 2022 no Teatro Miguel Franco, em Leiria, com a soprano Rita Marques e o Ensemble de Sopros da Associação de Filarmónicas do Concelho de Leiria, sob a direção de Nicholas Reed.