[preludio: nocturno], for solo violin (2017)

[en]
Written in February 2017, [prelúdio: nocturno] was commissioned by Teresa Silva for her master’s recital. The piece was premiered on 16 March of the same year, in a challenge that extended the interpretation beyond the violin: at the time, Teresa was also studying singing, and the work invited her to cross the two languages.

Inspired by Sophia de Mello Breyner Andresen’s poem “Exausta fujo as arenas do puro intolerável”, [prelúdio: nocturno] portrays an environment of inner tension, where chaos coexists with the desire for serenity. This piece was not autobiographical, but rather a reflection of what I have seen around me – of the fragility and resistance that define us. The poet’s verses echo this duality:

“Exausta fujo as arenas do puro intolerável
Os deuses da destruição sentaram-se ao meu lado
A cidade onde habito é rica de desastres
Embora exista a praia lisa que sonhei”
Sophia de Mello Breyner Andresen

The music explores contrasts: between the exterior and the interior, between tumult and stillness, between sound and silence. The title, [prelúdio: nocturno], condenses this ambiguity. “Prelúdio” suggests a beginning, a threshold to the unknown; “nocturno” evokes the lyrical and introspective tradition of the genre, but here contaminated by restlessness. The piece is not about falling asleep – it is about being awake at night, between exhaustion and the dream of the ‘smooth beach’.

[pt]
Escrita em fevereiro de 2017, [prelúdio: nocturno] foi uma encomenda da Teresa Silva para o seu recital de mestrado. A peça foi estreada a 16 de março do mesmo ano, num desafio que estendeu a interpretação para além do violino: na altura, Teresa também estudava canto, e a obra convidou-a a cruzar as duas linguagens.

Inspirado pelo poema “Exausta fujo as arenas do puro intolerável” de Sophia de Mello Breyner Andresen, [prelúdio: nocturno] retrata um ambiente de tensão interior, onde o caos coexiste com o desejo de serenidade. Não é autobiográfico, mas antes um reflexo do observado à minha volta — da fragilidade e da resistência que nos definem. Os versos da poeta ecoam nesta dualidade:

“Exausta fujo as arenas do puro intolerável
Os deuses da destruição sentaram-se ao meu lado
A cidade onde habito é rica de desastres
Embora exista a praia lisa que sonhei»
Sophia de Mello Breyner Andresen

A música explora contrastes: entre o exterior e o interior, entre o tumulto e a quietude, entre o som e o silêncio. O título [prelúdio: nocturno] condensa essa ambiguidade. “Prelúdio” sugere um princípio, um limiar para o desconhecido; “noturno” evoca a tradição lírica e introspectiva do género, mas aqui contaminada pela inquietação. A peça não é um adormecer — é um estar acordado na noite, entre a exaustão e o sonho da “praia lisa”.